O dia promete…
Algo no painel do carro me chama atenção, logo pela manhã, quando saio de casa para o trabalho.
É uma pequena luz a me informar que está acabando o combustível.
Acordei cedo, pois tenho uma manhã repleta de compromissos e conversas importantes,
Sou um homem atarefado que, em algum momento, se imagina tão importante quanto as conversas que terei.
Assim que dou a partida percebo um ruído estranho, o motor ameaça não pegar.
Temi por alguns segundos, mas o ‘possante’ logo ruge como a dizer:
“Vaaaaaamos”.
E fomos.
Andamos alguns quarteirões, atendo ao alerta.
Paro no primeiro posto que vejo e peço, ao rapaz que me atende, que encha o tanque do veículo. Que seja rápido. Sou um homem atarefado, não tenho tempo a perder.
Grande mentira.
Ao cabo do serviço, tento dar a partida – e nada.
Nenhum sinal vida.
Tento de novo, e nadica de nada.
Há tempos não vivia essa situação.
O carro encrencou.
Acontece, eu sei. Mas, mesmo assim, fico sem ação.
O frentista, agora, me olha compadecido.
– É doutor! Esses carros modernos, quando pifa a bateria, nada funciona. Melhor chamar o seguro.
Busco no celular o telefone do socorro, mas só agora me dou conta que esqueci os óculos. Repito desolado, para mim mesmo: o dia promete.
A solução é pedir auxílio ao rapaz para que leia para mim o número na agenda.
Ele sorri e, solicito, me ajuda na operação. Sou atendido pela voz de uma simpática moçoila que promete a presença do socorrista no local em 30 minutos.
Outra vez conto com o amparo do frentista e de alguns parceiros dele para remover o carro para um local que atrapalhasse o menos possível o tráfego dentro do posto.
II.
Percebo que não chegarei a tempo para as primeiras reuniões do dia e procuro avisar quem me espera. O celular me salva e a fotinho dos amigos na agenda também.
(Estou sem óculos, lembram?)
A sensação que estou lhes dando a mais esfarrapada das desculpas.
Enfim…
Poderia deixar o carro ali e pegar um ônibus até a universidade. Mas, tomo ciência de que não tenho uma moeda sequer no bolso. Além do que, daria um trabalho ainda maior se adiasse o conserto – se é que tem conserto rápido o ‘bendito’.
Se quiserem acreditar que acreditem, desencano.
E espero…
III.
Quarenta minutos depois, chega o meu salvador da pátria. Não precisa muito para detectar o problema.
– Essa bateria já era.
Dá uma carga rápida na ‘bichana’ e alerta.
– Vá direto para um auto-elétrico. Pode trocar por uma nova.
Ou seja, se eu bobear na empreitada – e o carro morrer – fico pelo caminho. A dona Heliar não está nem aí com os meus compromissos profissionais da manhã de hoje, todos adiados.
O que não tem remédio…
Cumpro meu ritual sem reclamos, conformado. Até que não me saí tão mal assim até a oficina.
Tudo novo de novo no ‘possante’.
IV.
Chego à Universidade ali por volta do meio-dia e vejo que as coisas, mesmo sem mim, seguiram tranquilamente, dentro do previsto e do imaginado como normalidade.
Olham-me desconfiado.
– Cuidado, meu caro, cuidado. Quando o chefe percebe que a gente não faz falta é perigoso.
– O dia não começou bem, respondo sem graça de tudo.
– E pode acabar pior – completa um gaiato. O Palmeiras joga à noite contra o melhor time da Argentina, lembra?
Lembro, mas prefiro esquecer.