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Poema levemente avermelhado

A Garota de Cabelos Vermelhos é mesmo uma personagem interessante. Ela está sempre por aqui a espiar o que escrevo. Às vezes, imagino que pretende dar algum palpite. Em outras, parece cobrar continuidade da própria história que, reconheço, já tem um bom número de fãs entre meus cinco leitores.

Vou contar um segredo. Que ela não nos ouça/leia.

Seus cabelos estão clarinhos, clarinhos. Com uma tonalidade quase rosa que chega a me preocupar. Por isso, tenho adiado o relato de suas aventuras. Me preocupo. Não quero deixá-la mais triste. Vocês sabem, né? Toda vez que a menina fica assim-assim o cabelo vai perdendo a cor. E ela passa a ser Isa, a Menina de Cabelos Levemente Avermelhados.

— Você está escrevendo sobre mim?

Pronto. Ela nos ouviu/leu. E agora?

— Está, não é?

— É. Estou… É hora de você reaparecer. Tudo bem?

— Sinceramente? Eu… eu… não estou bem ainda não.

— Como assim?

— Choro a cada pouco.

— O que aconteceu? Brigou com o namorado.

— Não sei mais se é ou foi. Sexta, nos vimos. Mas, depois ele me tratou com desdém. E eu achava que estávamos nos acertando.

— Pode ser uma fase, natural na idade de vocês…

— Não sei. Não sei. Sabe, na sexta, ele foi onde eu estava. Me achou bonita, senti que estava com um pouco de ciúmes. Tirou-me de perto dos meus amigos. Me beijou. Isso depois de conversarmos um monte, na boa, sem briga. Passamos a noite juntos.

— Olha que legal…

— Nem tanto. No sábado, discutimos. E aí não nos falamos mais. Fiquei arrasada.

— Vocês são jovens. Instáveis. Há tanto para viver…

— Hoje liguei para ele. Para acertarmos tudo de vez.

— Não seja tão radical. Essas coisas não se decidem assim: pronto acabou…

— Eu sei. Mas é ruim demais ficar nesse vai-não-vai.

— O que ele disse?

— Disse que hoje não está nada bem. Falou para conversarmos amanhã.

— Então…

— Amanhã, muito longe. Até lá…afê.

— Não fique assim…

— Horrível a espera. Vontade de arrancar o coração com a mão e jogar no lixo.

— Ei, ei. Também não exagere…

— Olha o que escrevi sobre a noite de sexta para sábado, quando ficamos juntos…

— Vou ler. Posso?

— Claro, leia…

“Na noite de sexta para sábado
eu vi o sol nascer.
Adoro muito mais do que ver o pôr do sol.
E olha que eu prefiro bem mais a noite do que o dia.

E nascia…

Mas eu não conseguia ver direito.
Fiquei na pontinha dos pés.
A janela era alta e triangular.
Não estava em casa.

E nascia lindo…

Vinha com o céu azul, rosa e laranja.
Havia uma tira de nuvens escuras que
tentava encobrir parte dessa luminosidade.

E eu ali, na pontinha dos pés…

Lembrei do que ouvi semana passada.
“Mesmo com céu carregadinho
de nuvens, o sol continua a brilhar.
Deixemos que as coisas aconteçam.”

Estranho?
Não acredito em coincidências.

Mas, fiquei ali, a me lamentar pelas nuvens
e a apreciar esse lindo nascer
de uma nova jornada.

Só depois fui dormir…

Cheguei no quarto e, à minha espera,
havia um espaço triangular na cama.
Pequeno e triangular, como a janela.

Coincidência?
Estranho. Mas, não acredito em coincidências."

— Então? O que você acha?

— Que seus cabelos estão bonitos. Da cor do céu quando nasce o sol. Vários tons de vermelho, rosa e laranja. Parece a menina maluquinha, mas é legal.

— Não, não. O que acha do que escrevi. De tudo.

— Eu? Bem… Sinceramente?

— É, sinceramente…

— Sinceramente, eu não acredito em coincidências…